“A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original, e aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos, por aqueles que não podiam escutar a música.”

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sábado, 9 de março de 2013

Uma Vida Interessante

 

"E, se eu lhe disser que estou com medo de ser feliz pra sempre?"

É uma pergunta que muita gente tem medo de se fazer. "Ser feliz", no contexto em que foi exposto, significa o cumprimento das metas tradicionais: ter um bom emprego, ganhar algum dinheiro, ser casado e ter filhos.

Isso traz felicidade? Claro que traz. Saber que "chegamos lá" sempre é uma fonte de tranqüilidade e segurança. Conseguimos nos enquadrar, como era o esperado. A vida tal qual manda o figurino. Um delicioso feijão-com-arroz. Mas e ai Jose? O que se faz com nossas outras ambições?

Não por acaso a biografia de Danuza Leão fez sucesso. Ali estava a história de uma mulher que não correu atrás de uma vida feliz, mas de uma vida intensa, com todos os preços a pagar por ela. A maioria das pessoas lê esse tipo de relato como se fosse ficção. Era uma vez uma mulher charmosa que foi modelo internacional, casou com jornalistas respeitados, era amiga de intelectuais, vivia na noite carioca e, por tudo isso, deu a sorte de viver uma vida interessante. Deu sorte?

Alguma, mas nada teria acontecido se ela não tivesse tido peito. E ela sempre teve. Ao menos, metaforicamente.

Pessoas com vidas interessantes não têm fricote. Elas trocam de cidade. Investem em projetos sem garantia. Interessam-se por gente que é o oposto delas. Pedem demissão sem ter outro emprego em vista. Aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram. Estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto. Começam do zero inúmeras vezes. Não se assustam com a passagem do tempo. Sobem no palco, tosam o cabelo, fazem loucuras por amor, compram passagens só de ida.

Para os rotuladores de plantão, um bando de inconseqüentes. Ou artistas, o que dá no mesmo. Ter uma vida interessante não é prerrogativa de uma classe. É acessível a médicos, donas de casa, operadores de telemarketing, professoras, fiscais da Receita, ascensoristas.

Gente que assimilou bem as regras do jogo (trabalhar, casar, ter filhos, morrer e ir pró céu), mas que, a exemplo de Groucho Marx, desconfia dos clubes que lhe aceitam como sócia. Qual é a relevância do que nos é perguntado numa ficha de inscrição, num cadastro para avaliar quem somos? Nome, endereço, estado civil, RG, CPF. Aprovado.

Bem-vindo ao mundo feliz.

Uma vida interessante é menos burocrática, mas exige muito mais.



Por Martha Medeiros

Adaptado por Paola Sabbado

Amor "Quase" Perfeito


Eles passaram os últimos cento e quarenta minutos se desencontrando, se apaixonando e se machucando bem em frente aos seus olhos.

Ele, o típico danificado emocional, recusa-se a se entregar a toda e qualquer forma de envolvimento. Ela, moderna e articulada, levanta a bandeira da independência ao mesmo tempo em que tenta enterrar dentro de si seus desejos por um companheiro romântico e apaixonado.

Essa poderia muito bem ser a sua história, mas é mais uma dessas comedias românticas de Hollywood. E o que provavelmente difere a ficção da realidade é que, um pouco antes dos créditos subirem e as luzes se acenderem no cinema, o mocinho lá na telona parou um avião que partia para o Alasca levando consigo o que ele acabara de descobrir ser o grande amor de sua vida. Ou então ele organizou um flashmob em plena Times Square para dizer o quanto ela significa para ele. Ou ela resolveu invadir a festa de noivado do irmão dele para dizer o quanto ele é burro por desperdiçar a chance de encontrar o amor verdadeiro. E lá mesmo eles se casaram.

Mas o filme acabou aí. E o que ficou depois na sua cabeça foi aquela perguntinha inconveniente: “será que um dia isso pode acontecer comigo?” 
Oi, Hello!? Mas é óbvio que NÃO!  

O filme acabou ali justamente porque a realidade dos dias que se seguiram foi real demais para servir como entretenimento. Eles tiveram que pagar contas (e uma multa ao estado por parar o avião do Alasca), deixaram de frequentar restaurantes legais porque precisaram alugar um apartamento de 40 m2 que levou metade de seus salários. Ela se frustrou porque nunca mais recebeu uma declaração de amor. O irmão dele nunca a perdoou pela invasão na festa de noivado.

A realidade pode ser dura demais para caber num filme romântico, assim como o romantismo exagerado de Hollywood pode ser insustentável a médio e a longo prazo na vida real. Eu costumo dizer que Hollywood fode a vida da gente desde sempre. Nos deixamos levar pela visão distorcida de que o amor precisa de manifestações mirabolantes para valer a pena e de que tudo deu certo no fim quando, na verdade, ainda nem tinha começado.

Minha avó dizia que você precisa comer pelo menos 1 kg de sal juntos para conhecer seu companheiro, e mesmo assim ainda tera muuuito para conhecer, e pode dizer que o conhece quando souber quantos grãos de arroz ele coloca em seu prato. Já eu acho que fazer uma viagem longa de carro com a outra pessoa pode ter o mesmo efeito sem prejudicar sua pressão arterial. 

Se durante uma viagem de oito horas você não se incomodar com aquele hábito angustiante que ele tem de balançar as pernas sem descanso, se a preocupação demasiada dela em não deixar-lhe o vento bagunçar o cabelo passar despercebida e se vocês tiverem assunto para conversar e driblar aquele clima de elevador, considerem-se vencedores de uma importante prova de fogo: a da convivência forçada.

Não sou uma pessoa amarga e passo muito, muito longe da razão e da inteligência emocional quando estou apaixonada. Amo os filmes “de mulherzinha”, e foram eles que me ensinaram a sair do cinema imaginando a continuação daquelas histórias mirabolantes como forma de buscar o equilíbrio que faltou até ali. E é justamente disso que o mundo precisa: equilíbrio, minha gente! 
Provavelmente você vai ganhar conchinha essa noite, mas a sua primeira vez com ele foi caindo de bêbada e você nem lembra se gozou. Se o pedido de namoro chegou acompanhado de flores, não se frustre se nunca mais as receber. Ele pode nunca tê-la pedido em namoro, mas a apresentou para os pais dele como a mulher da sua vida. E assim, apoiados no equilíbrio, a gente aprende a ser mais felizes quando tudo realmente começa.
Ahhh e não se esqueça: não existem finais felizes, existe sim um monte de bons momentos que valem a pena serem relembrados. Não existe principe encantado, mas sim Ogros que podem sim te fazerem uma princesa ;)


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